quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

COMO OS MÉDICOS INVENTAM DOENÇAS - PARTE III - GINECOLOGIA - A SÍNDROME DOS OVÁRIO POLICÍSTICOS

Em ginecologia, área onde sou especialista de formação, existem dois diagnósticos médicos muito comuns e podem ser completamente equivocados, que são: ovários micropolicísticos e cistos ovarianos.


Hoje falaremos dos ovários micropolicísticos (ou polimicrocísticos, ou ainda policísticos (todos sinônimos), um dos diagnósticos mais equivocados da medicina moderna na área de ginecologia!

É importante salientar que existem critérios ecográficos bem definidos para se considerar um ovário como de aspecto micropolicístico ou simplesmente policístico: além dele estar aumentado de tamanho, as alterações hormonais que fazem com o ovário mude de aspecto, causam alterações características no tamanho e na quantidade dos folículos ovarianos (erroneamente chamados de cistos) que são típicas da síndrome!

Os médicos, muitas vezes "às pressas", se "esquecem" de conferir a presença de todos os critérios antes de dar o diagnóstico, e acabam chamando ovários normais de policísticos!

Isso acontece porque, em meninas durante a adolescência e em mulheres adultas que usem alguns tipo de anticoncepcional, o ovário costuma ficar com múltiplos pequenos folículos em seu interior, sendo isso perfeitamente normal, porém podendo ser confundido num exame mais superficial, com os tais ovários policísticos!

Para ser bem sincero, há uma máxima na medicina que diz que médico bom é o que encontra doença e médico ruim é o que diz que o exame está normal! Não sei se isso é verdade para vocês, pacientes, mas não tenham dúvida que é para nós, médicos!

Aí é juntar a fome com a vontade de comer, acaba que achar doença vira festa!

Para piorar toda a situação (acreditem, ainda pode piorar), a famosa alteração, que é visível pelo ultrassom transvaginal, e que deu o nome à síndrome; não é a causa, mas apenas uma das consequências da doença!

A causa é uma alteração hormonal que leva a um aumento dos hormônios ditos androgênicos (testosterona e outros) e alterações no ciclo do FSH e LH, hormônios produzidos pela hipófise (uma glândula localizada no crânio).

Por este motivo, todos nós aprendemos (ou deveríamos aprender) na faculdade, na residência e em todos os livros de ginecologia nacionais e internacionais, que não se deve levar em conta o resultado do exame de ultrassonografia para se considerar uma mulher como portadora da síndrome dos ovários micropolicísticos. 

Muitos aprendem, mas poucos praticam! 

Não sei porque alguns  médicos insistem em valorizar tanto o resultado do ultrassom, se ele, além de muitas vezes estar errado, não serve para o diagnóstico da doença (na verdade eu sei porque, mas acho que devemos tratar disso em outro momento).

Só para se ter uma ideia, durante um tempo, tentou-se até mudar o nome da síndrome dos ovários micropolicísticos, para síndrome de anovulação crônica, por caracterizar a alteração básica ocorrida na mulher! Porém esse novo nome não "pegou" e, na prática clínica, o nome antigo e inapropriado permaneceu!
Se você está com esse diagnóstico, é fácil saber se ele está errado ou não, para isso é preciso responder a duas perguntas básicas:

Primeira: Você tem ciclos menstruais a intervalos regulares (por exemplo de 28 em 28 dias, de 30 em 30 dias, de 26 em 26 dias, ou mesmo de 35 em 35 dias)?

Se você tem ciclos regulares e, tanto o seu ginecologista, como o médico que realizou a ultrassonografia disseram que você tem síndrome dos ovários policísticos, rasgue seu exame de ultrassonografia, jogue no lixo e troque de ginecologista!

Se você tem ciclos irregulares, é necessário responder à segunda pergunta:
Como andam seus hormônios: L.H., D.H.E.A., androstenediona e testosterona livre?

Se os três últimos estiverem totalmente normais, você tem anovulação crônica, mas não é a síndrome dos ovários policísticos! Portanto, devem-se procurar outras causa para a sua anovulação!

Qualquer dúvida, podem me contacta que encontro-me à disposição para ajudar no que for preciso!

Dr. Renato Paula da Silva - médico especialista.

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